Canindé

Hoje, pela visagem da estátua de São Francisco de Assis 

 

Mate um índio: tire-lhe o direito ao toque,

Ao sexo, e à falta de pudor.

Tire do índio o direito de ser indiferente

Indeferente

Aos sonhos velhos da política, e ao pesadelo velho dos ex-

votos.

Faça mais: tire do índio o direito de olhar, e desejar, assim

Assum

Preto, fure os olhos

subtraia os óculos e sem além, sem juízo, olhe

Mas não veja sequer as

Chagas de São Francisco.

Órbitas vazias, realejo de porta de igreja, corte fora o pé,

Humilhe, emascule, mortifique.

Por fim, tire do mauro ameríndio

o direito de falar.

Drene seu choro

e numa lixa ao contrário, lacere o polimento acrílico,

Os vernizes sobrepostos à tez escura,

Ao riso claro,

À ciência inata de que esta terra é só um pedacinho

do universo

e que o universo é coisa alheia, é teu corpo e estrangeiro,

e sou

e sôo

Muito mais do muito menos

Eu. Espólio.

Morto. Re-d

Vivo?

0 Respostas to “Canindé”



  1. Deixe um comentário

Deixe um comentário