Para Ednardo, Andrew Lloyd Weber e Karen Carpenter
Não, Ceará, não me peça que te esqueça
Nem chore por mim, ao saber que não saberás
Como me sinto.
De teu amor não preciso. Sou o homem a quem não te deste
Salvo sorrateiramente, roubada
E em violência consentida.
E nada de mim conheceste, apenas minha estranhez de classe média
Minha propensão a sonhos insonháveis
E minha inconsolável saudade do que não houve.
Não chorarás por mim, Fortaleza.
Não nasci aqui, e não sou como você.
Se tive de deixar acontecer tal incompleto caso de amor
Foi porque quis. Porque pedi, e implorei. Hoje, sozinho
Miro o mundo por Mucuripe, e sei claramente
Que um tipo especial de sol
Claudicante, inclemente e inoportuno
Nasce daqui, engabela meridianos, e se impõe ante
(outras tantas)
Fortalezas de Latinamérica.
Parto, eu que escolhi a liberdade
E que sei que liberdade aqui não há.
Mas é fato que tampouco hei de te esquecer
Sem promessa nem perdão, ulterior mas imanente
Tu não manterás distância. Nem poderias.
Não chorarás por mim, Fortaleza
Nem tu, nem as putas de Iracema, nem o porteiro do hotel
Nem os mototaxistas, professores, ou moradores de Maracanaú.
Não há excesso no que digo
Como no mar que irrita os olhos
Como no tempo que não cessa
Passarei, e ficarei.
Se é amor, quem saberá?
Se é verdade, a quem importa?
em forma de poesia, gostei! abraço forte.