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Uma do Prata: Direita, esquerda – volver

Acho essa crônica muito melhor que o debate Schumpeter VS. Bobbio. Lá vai:

Segunda-feira, 25/2/2008
Direita, Esquerda ― Volver!
Antonio Prata
http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=242

Depois que o muro de Berlim foi partido em cubinhos e vendido como souvenir, Che Guevara passou a usar o chapéu do Mickey Mouse e a Colgate uniu o mundo num único e branco sorriso, muita gente pensou que esquerda e direita tinham ficado para trás. Dizia-se que, dali em diante, os termos só seriam usados para indicar o caminho no trânsito e diferenciar os laterais no futebol. Afinal de contas, estávamos no fim da História e, como sabíamos desde criancinhas, todos viveriam felizes para sempre.

Mas o mundo gira, gira e ― eis aí um grande problema de rodar em torno do próprio eixo ― voltamos para o mesmo lugar. Se a história se repete como farsa ou como história mesmo, não faço a menor idéia, mas ouso dizer, parafraseando Nelson Rodrigues (que já foi de direita, mas o tempo e Ruy Castro liberaram para a esquerda), que hoje em dia não se chupa um Chicabom sem optar-se por um dos blocos.

Ah, como fomos tolos! Acreditar que aquela dicotomia ontológica resumia-se à discussão sobre quanto o Estado deveria intervir no mercado (ou quanto o Mercado deveria ser regulado pelo estado, o que vem a ser a mesma coisa, de maneira completamente diferente) é mais ou menos como pensar que a diferença entre homens e mulheres restringe-se ao cromossomo Y. Ou ao comprimento do cabelo.

Estado e Mercado são apenas a ponta de um iceberg, ou melhor, dois icebergs sociais, culturais, gastronômicos, gramaticais, musicais, lúdicos, léxicos, religiosos, higiênicos, esportivos, patafísicos, agronômicos, sexuais, penais, eletro-eletrônicos, existenciais, metafísicos, dietéticos, lógicos, astrológicos, pundonôricos, astronômicos, cosmogônicos ― e paremos por aqui, porque a lista poderia levar o dia todo.

Justamente agora, quando esquerda e direita, pelo menos em suas ações, pareciam não divergir mais sobre as relações entre Estado e Mercado (ponhamos assim, os dois com maiúsculas, para não nos acusarem de nenhuma parcialidade), a discussão ressurge lá do mar profundo, com toda a força, como o tubarão de Spielberg.

Para que o pasmo leitor que, como eu, dá um boi para não entrar numa discussão, mas uma boiada para não sair, não termine seus dias sem uma única rês, resolvi enumerar algumas diferenças entre essas, digamos, maneiras de estar no mundo. Dessa forma saberemos, ao comentar numa mesa de bar, na casa da sogra ou na padaria da esquina, “dizem que o filme é chato” ou “como canta bem esse canário belga”, se estamos ou não pisando inadvertidamente numa dessas minas ideológicas, mandando os ânimos pelos ares e causando inestancáveis verborragias.

A lista é curta e provisória. Outras notas vão entrar, mas a base, por ora, é essa aí. Se a publico agora é por querer evitar, mesmo que parcialmente, que mais horas sejam ceifadas, no auge de suas juventudes, nas trincheiras da mútua incompreensão. Vamos lá.
A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal ― e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem ― e tende a melhorar. A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.
Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.
Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“Filosofar é aprender a morrer”, Cícero.) Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! ― grita a esquerda. Ressentida! ― grita a direita.
A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à ioga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).
Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos ― se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda.)
Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da ioga (processo, holístico e ioga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Ioga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”.)
Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso.)
Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris.) Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.
As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista.)
Leão, urso, lobo: direita. Pingüim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa.) Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdômen, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão.)

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar.) Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes.) Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, ketchup é de direita ― e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.
Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.
No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda (mas talvez essa seja a visão de uma mulher ― de esquerda).
Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (A trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).
“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.
Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do nêutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.
To be continued (para os de direita)…
Under construction (para os de esquerda)…

Cabelos na cara vs. Cabelos no peito

Conforme destaca o Blog de Jamildo, Veja registrou que a bilheteria de “Lula, o filho….” está sendo batida pela bilheteria de “Se eu fosse você 2”. Como Glória Pires trabalha nos dois filmes, seria plausível supor que a diferença se deva ao ator que com ela contracena. De um lado, o personagem de Lula é vivido com barba por Rui Ricardo Dias; do outro, há Toni Ramos, que dispensa apresentações…

http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2010/01/08/lula_o_filme_nao_engrenou_61288.php

Patarra e o Filho de Lindu

Assisti ao filme, e não escreverei comentando a propaganda eleitoral nele incutida, nem o fato de que a anteprimeira cena do filme é uma mensagem advertindo os incautos de que a película não ganhou um único mirrel do governo. Ah, tá…
Lula (o filme) é uma excelente máquina de fazer dinheiro pela própria bilheteria que gerará, e isso é um excelente mérito comercial. Sem ironia, não há nenhum problema em se explorar um produto bom de vender: os meus reaizinhos já estão lá, pacatamente, registrados na contabilidade da produtora. A produção foi lançada num ano no qual Lula (o homem) estará em evidência mais do que ninguém… isso é uma jogada comercial de mestre, e até o PSDB fará a divulgação do filme quando criticar o seu personagem. Mas esse e outros detalhes também podem ser deixados de lado nesta nota, como o “bolsa-Lula” (filme ou homem?) bancado pelas centrais sindicais para levar a peãozada ao cinema, ou lançamento do DVD no fim de maio, quando a campanha esquenta, e – de acordo com a Veja – o contrato com a Globo para adaptar o filme numa minissérie em plena campanha. “Lula” já nasceu um grande sucesso de mercado.
http://veja.abril.com.br/251109/a-construcao-de-um-mito-p-76.shtml

Num blog de opinião faço apenas o que me proponho, e registro que o filme, como peça de cinema, é ruim. Os takes são muito mal realizados, tanto aqueles ao ar livre (como o protesto na fábrica, no qual um sujeito é atirado de uma passarela), como nos de ambientes fechados (os holofotes de mentirinha dentro do sindicato ocupado). No primeiro, lembrei-me do mau gosto típico das cenas de ação do diretor Sérgio Rezende (que parecem retiradas do seriado de Jaspion)… os “manifestantes”, depois de virem em uma passeata bem arrumadinha até o portão da fábrica, andam de lá para cá com uns bastões na mão, sempre olhando para a câmara; no segundo, as cenas de “tensão” retratadas n’“O Homem da Capa Preta”: como um Tenório Cavalcante noir, Lula, um personagem capaz de mudar de sotaque de uma cena para outra, decide o final da ocupação do prédio.
Sinceramente, eu esperava mais de um filme tão caro, e tão alardeado. No mínimo, um filme bem-feito como “Cinema, aspirinas, e urubus”
http://www.adorocinema.com/filmes/cinema-aspirinas-e-urubus
http://www.contracampo.com.br/75/cinemaaspirinas.htm
que é ambientado no mesmo sertão de Aristides e suas mulheres (detalhe: Caetés é no Agreste pernambucano, e a gravidez-de-almofada da sua outra companheira é, no mínimo, uma paródia digna do programa do Chapolim), mas que constrói uma bela narrativa com um orçamento mínimo, na qual se sente a sintonia entre roteiro, direção de arte, elenco e fotografia.

Filmes biográficos? Sim… para mim, restou sublinhado um lado algo incestuoso, edipiano, do presidente-personagem com sua mãe. Dona Lindu (Glória Pires) e Lourdes, sua mulher (Cléo Pires), são mãe e filha na vida real, o que remete a amadorismo na composição do casting. Também sobra uma pseudo-explicação geneticista para as fortes inclinações do presidente ao álcool (quase que um tabu, do que não se fala no Brasil!), pois seu pai só aparece bêbado…
Sobre grandes personagens, do tipo “nunca antes na história da humanidade”? Pergunto por que, senão por cláuslua de contrato ou por incompetência, que os Barretos Fábio e LC não se inspirariam, ao reconstruir “a aurora da esperança que vence o medo”, no mesmo intimismo rústico que inspirou “O Guerreiro Gêngis Khan”? Um épico correto, que não faz nada além de humanizar o mito, mesmo na sua dimensão de herói.
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,epico-indicado-a-oscar-retrata-juventude-de-genghis-khan,407107,0.htm  

Sobre um brasileiro comum? Emocionou-me a agilidade e o drama de “Jean Charles”, também lançado o ano passado, que seria um excelente exemplar do gênero. Ou a Hora da Estrela, do homônimo de Clarice Lispector, no qual um drama universal é tratado com sotaque nordestino no Rio de Janeiro.
http://veja.abril.com.br/240609/p_154.shtml
http://cineminha.uol.com.br/filme.cfm?id=919

Sobre um brasileiro que acredita “nos companheiros, na luta, no sindicato”, etc? O filme é “Eles não usam Black-Tie”, filme que já utilizei, inclusive, em sala de aula. Excelente adaptação da peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, muito bom para retratar o momento histórico das greves do fim da década de setenta.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eles_n%C3%A3o_Usam_Black-tie_(filme)  

Mas incompetentes os Barretos não são, né verdade? Claro que eles conhecem todas essas referências… Curioso é que Berzoini não tardou em alfinetar a oposição, quando do pré-lançamento de Lula em Brasília, dizendo que ela, se estiver achando ruim, que faça seu próprio filme… oi, quer dizer então que esse filme é do governo?
http://noticias.uol.com.br/politica/2009/11/17/ult5773u2992.jhtm.

Quanto a Lula, em minha opinião, é a falta de cuidado com a estética, e não as “coincidências eleitorais”, que descredencia o filme. Quanto ao homem… bem, já escrevi demais por hoje.

Em tempo:
Santo, hein?
http://www.escandalodomensalao.com.br/media/pdf/o_chefe.pdf

Vampiros emocionais

Gostei do abstract do livro de Albert Bernstein, que me foi remetido pela Elsevier. Não é um texto recente (data de 2000) nem exatamente inusitado, em época em que as criaturas noturnas da série “Crepúsculo” estão em alta. De qualquer sorte, desde meados dos anos noventa, quando conheci o “Entrevista com o vampiro” de Anne Rice, eu não me ocupava de ler nada sobre essa espécie do bestiário universal.

Mas, não é que o tal do bicho existe mesmo?

http://veja.abril.com.br/280201/p_096.html

Os vampiros emocionais, de acordo com o autor, são pessoas de temperamento complicado, cuja existência se realiza ao criar problemas aos que estão ao seu redor. E sugere algumas técnicas para se ter uma boa convivência com eles. 

Sou menos otimista: aos vampiros emocionais a indiferença, senão a lei.

Primeiro post, primeiro blog…

mas um ano já um bocado gasto.É verdade, ainda tem um restinho de dois mil e nove estocado no armário do devir, mas não dá para muita coisa, não.

Coisas boas são assim: anos e pessoas, é só esperar que elas se gastam sozinhas. E é justamente essa a gasolina da saudade.

De qualquer sorte, sejam bem chegados à minha casa. É ainda modesta, de fato, mas passarei os próximos dias arrumando as coisas. Tentarei lhes oferecer, para mordiscar, uma  porção de idiossincrassias colhidas no quintal, acompanhada de um caneco de refresco de opinião.  Podem se abancar, que eu já-já lhes farei companhia.

Hello world!

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